Ninguém quer se despedir de quem ama. Não gostaríamos de estar em um encontro onde sabemos que será o último. Onde será a última lembrança vivida. Tememos esse momento e fazemos o que achamos estar ao nosso alcance para evitá-lo. Acontece que não é possível evitar a morte e não temos qualquer controle sobre ela.

Diante da perda de um ente querido, tudo ao redor se transforma. Cada detalhe passa a ser importante - como a última demonstração de amor por quem partiu. De maneira geral, nos empenhamos em resolver os mínimos detalhes da melhor forma possível. Cada etapa e cada escolha são importantes para o enlutado nesse momento, ainda que seja um pesadelo escolher um caixão para quem não imaginamos viver sem.

A privação desse espaço de despedida, dessas escolhas e da vivência do último instante com quem partiu, pode acarretar em complicações no processo do luto, uma vez que esses rituais têm sua função. São os rituais de despedida que auxiliam na concretização da morte, na elaboração desse acontecimento e sua ausência pode alimentar a fantasia de que tudo não passa de uma mentira.

Ser privado da última homenagem, do último toque e das últimas palavras à quem se ama, gera uma angústia extrema no enlutado. Intensifica sua dificuldade em assimilar o acontecido. Fica uma lacuna nesse entendimento: “ele estava bem, estive com ele e de repente não o vi nunca mais”. Essa lacuna da espaço a muitos pensamentos, em sua maioria, disfuncionais e carregados de culpa.

Texto de LAIS MAISONAVE | Psicóloga

@psi.laismaisonave